Para além do ESG tradicional: o pilar sustentabilidade humana

Quando falamos em sustentabilidade e ESG, nossa mente logo remete a relatórios de emissão de carbono, diversidade em conselhos, políticas de compliance e investimentos verdes. São pilares essenciais, inquestionáveis. Mas e se, para construir organizações verdadeiramente resilientes e regenerativas, estivermos negligenciando uma dimensão fundamental da experiência humana?

Enquanto organizações correm para alinhar suas operações aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e aos critérios ESG — ambiental, social e de governança —, poucas olham para dentro: para a dimensão espiritual da saúde humana, um pilar essencial, porém frequentemente negligenciado.

Uma pesquisa inovadora do McKinsey Health Institute (MHI), “In Search of Self and Something Bigger: A Spiritual Health Exploration”, lança luz sobre uma questão profunda: a saúde espiritual como um catalisador para o bem-estar integral e, por extensão, para uma atuação mais autêntica e sustentável.

Por isso, vamos além da gestão de riscos e da estratégia convencional para mostrar como o equilíbrio interior pode ser a base para uma liderança mais sábia e organizações mais alinhadas com seu propósito.

Saúde espiritual, o pilar da sustentabilidade humana. Por que ela importa para o ESG?

Contrariando a ideia comum de que espiritualidade se limita à religião, o estudo da MHI define saúde espiritual como a capacidade de encontrar sentido, propósito e conexão com algo maior que si mesmo — seja por meio de comunidades, causas sociais, natureza, arte, trabalho com impacto ou práticas de mindfulness. Trata-se de uma dimensão tão crítica quanto a saúde física, mental e social. Não se trata necessariamente de adesão a uma doutrina religiosa, mas de um estado de equilíbrio que envolve:

  • Autoconhecimento: compreender profundamente seus valores, paixões e motivações.
  • Propósito: ter uma clara noção de como suas ações contribuem para algo que transcende o ganho individual ou financeiro.
  • Conexão: sentir-se parte de uma comunidade, da humanidade e do ecossistema global.

E aqui está o ponto de inflexão para líderes, gestores e formuladores de políticas ESG: a saúde espiritual está profundamente interligada com os pilares social e de governança do ESG. Quando as pessoas sentem que suas vidas têm propósito, elas tendem a:

  • Tomar decisões mais éticas e alinhadas com valores de longo prazo;
  • Demonstrar maior empatia e engajamento social;
  • Ser mais resilientes diante de crises — pessoais ou organizacionais;
  • Buscar conexões autênticas com comunidades e ecossistemas.

Dados que não podem ser ignorados

A pesquisa do MHI com 41 mil pessoas em 26 países, incluindo uma amostra robusta da Geração Z, mostra dados impressionantes: pessoas com boa saúde espiritual têm até 6,1 vezes mais probabilidade de relatar altos níveis de saúde mental e até 5,6 vezes mais probabilidade de se sentirem realizadas. São números que nenhuma estratégia de capital humano ou bem-estar corporativo pode ignorar.

Dentre os resultados são reveladores, destacam-se:

  • Mais de 80% dos entrevistados em países como Brasil, Indonésia, Nigéria e Vietnã consideram a saúde espiritual “muito” ou “extremamente importante”.
  • Em contraste, menos de 45% nos países nórdicos e na Irlanda atribuem esse mesmo grau de importância — um sinal das diferenças culturais e socioeconômicas que moldam a percepção de propósito.
  • Entre os jovens com má saúde mental, três vezes mais relataram falta de sentido na vida.
  • Indivíduos com baixa saúde espiritual têm até quatro vezes menos chances de relatar boa saúde mental — e duas vezes menos chances de ter boa saúde física ou social.

Esses dados não são apenas estatísticos: são um alerta estratégico. Se queremos construir organizações e sociedades verdadeiramente sustentáveis, precisamos reconhecer que pessoas desconectadas de seu propósito não sustentam mudanças sistêmicas duradouras.

A conexão com a sustentabilidade e a governança

O estudo revela algo surpreendente: dois terços dos jovens da Geração Z consideram fatores espirituais — como missão organizacional e oportunidades de trabalho pro bono — como “muito importantes” ou “importantes” na escolha de um empregador. Millennials e Gen X pensam de forma semelhante.

Isso significa que a governança corporativa precisa evoluir para incluir a dimensão espiritual da experiência humana no trabalho. Não se trata de impor crenças, mas de criar ambientes onde as pessoas possam:

  • Encontrar significado no que fazem;
  • Contribuir para causas maiores que o próprio cargo;
  • Ter espaço para reflexão, silêncio e conexão com valores pessoais.

Organizações que ignoram essa demanda correm o risco de perder talentos, enfrentar altos índices de burnout e falhar em engajar equipes em agendas de sustentabilidade que exigem compromisso emocional e ético.

Sustentabilidade começa com o ser humano inteiro

A sustentabilidade não é apenas sobre reduzir emissões ou reciclar plástico — é sobre reconectar o ser humano com seu lugar no mundo. É sobre entender que não há transição ecológica sem transição interior.

Investir em saúde espiritual — individual e coletiva — é investir em:

  • Resiliência emocional diante das crises climáticas e sociais;
  • Empatia ampliada, essencial para justiça social e equidade (pilar “S” do ESG);
  • Tomada de decisão com base em valores, não apenas em indicadores financeiros (pilar “G”).

Cultivando a saúde espiritual nas organizações: para além do mindfulness

Isso não significa criar espaços de meditação obrigatórios (embora a prática seja valiosa). Significa criar uma cultura organizacional que:

  • Incentive a reflexão: promover momentos de pausa e reflexão, tanto individualmente quanto em equipe. Reuniões de check-in que vão além das metas de projeto.
  • Conecte as pessoas com o propósito: comunicar constantemente como o trabalho de cada um impacta positivamente a vida dos clientes, a comunidade ou o planeta. Histórias e casos reais são poderosos.
  • Valorize a autenticidade: criar um ambiente psicológicomente seguro onde as pessoas possam trazer seu “eu inteiro” para o trabalho, com seus valores e aspirações.
  • Reconheça a integralidade do ser: Implementar políticas de bem-estar que considerem o indivíduo em suas dimensões física, mental, emocional *e* espiritual.

O equilíbrio interior como alicerce para o impacto exterior

A busca por uma sociedade mais sustentável e por organizações mais responsáveis começa com uma jornada interior. O relatório da McKinsey não é um tratado espiritual; é um sólido estudo de dados que aponta para uma conclusão estratégica: não há sustentabilidade externa sem equilíbrio interno.

Ao integrar a conversa sobre saúde espiritual na gestão, na estratégia e na cultura organizacional, não estamos abandonando o rigor do ESG. Pelo contrário, estamos aprofundando-o. Estamos plantando as sementes para uma governança mais sábia, um impacto social mais genuíno e uma relação mais harmoniosa e humana.

Como escreve a pesquisadora Lisa Miller, citada no estudo do MHI: “Alguns de nós são mais predispostos a sentir conexão espiritual… mas todos podemos cultivar essa capacidade e fortalecer nosso ‘músculo espiritual’.”

Para gestores, investidores e formuladores de políticas ESG, o desafio é claro: integrar a saúde espiritual nas estratégias de bem-estar organizacional, nos relatórios de impacto social e nas práticas de governança humana.

A sustentabilidade do planeta depende da sustentabilidade do ser humano. E um ser humano sustentável é aquele que sabe por que está aqui.

📄 Saiba mais — acesse — McKinsey Health Institute (MHI), “In Search of Self and Something Bigger: A Spiritual Health Exploration”.

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✍ Adriano Motta.

🖼 Imagem – McKinsey Health Institute (MHI), “In Search of Self and Something Bigger: A Spiritual Health Exploration”

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