Para além do ESG tradicional: o pilar sustentabilidade humana
junho 29, 2025
Quando falamos em sustentabilidade e ESG, nossa mente logo remete a relatórios de emissão de carbono, diversidade em conselhos, políticas de compliance e investimentos verdes. São pilares essenciais, inquestionáveis. Mas e se, para construir organizações verdadeiramente resilientes e regenerativas, estivermos negligenciando uma dimensão fundamental da experiência humana?
Enquanto organizações correm para alinhar suas operações aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e aos critérios ESG — ambiental, social e de governança —, poucas olham para dentro: para a dimensão espiritual da saúde humana, um pilar essencial, porém frequentemente negligenciado.
Uma pesquisa inovadora do McKinsey Health Institute (MHI), “In Search of Self and Something Bigger: A Spiritual Health Exploration”, lança luz sobre uma questão profunda: a saúde espiritual como um catalisador para o bem-estar integral e, por extensão, para uma atuação mais autêntica e sustentável.
Por isso, vamos além da gestão de riscos e da estratégia convencional para mostrar como o equilíbrio interior pode ser a base para uma liderança mais sábia e organizações mais alinhadas com seu propósito.
Saúde espiritual, o pilar da sustentabilidade humana. Por que ela importa para o ESG?
Contrariando a ideia comum de que espiritualidade se limita à religião, o estudo da MHI define saúde espiritual como a capacidade de encontrar sentido, propósito e conexão com algo maior que si mesmo — seja por meio de comunidades, causas sociais, natureza, arte, trabalho com impacto ou práticas de mindfulness. Trata-se de uma dimensão tão crítica quanto a saúde física, mental e social. Não se trata necessariamente de adesão a uma doutrina religiosa, mas de um estado de equilíbrio que envolve:
- Autoconhecimento: compreender profundamente seus valores, paixões e motivações.
- Propósito: ter uma clara noção de como suas ações contribuem para algo que transcende o ganho individual ou financeiro.
- Conexão: sentir-se parte de uma comunidade, da humanidade e do ecossistema global.
E aqui está o ponto de inflexão para líderes, gestores e formuladores de políticas ESG: a saúde espiritual está profundamente interligada com os pilares social e de governança do ESG. Quando as pessoas sentem que suas vidas têm propósito, elas tendem a:
- Tomar decisões mais éticas e alinhadas com valores de longo prazo;
- Demonstrar maior empatia e engajamento social;
- Ser mais resilientes diante de crises — pessoais ou organizacionais;
- Buscar conexões autênticas com comunidades e ecossistemas.
Dados que não podem ser ignorados
A pesquisa do MHI com 41 mil pessoas em 26 países, incluindo uma amostra robusta da Geração Z, mostra dados impressionantes: pessoas com boa saúde espiritual têm até 6,1 vezes mais probabilidade de relatar altos níveis de saúde mental e até 5,6 vezes mais probabilidade de se sentirem realizadas. São números que nenhuma estratégia de capital humano ou bem-estar corporativo pode ignorar.
Dentre os resultados são reveladores, destacam-se:
- Mais de 80% dos entrevistados em países como Brasil, Indonésia, Nigéria e Vietnã consideram a saúde espiritual “muito” ou “extremamente importante”.
- Em contraste, menos de 45% nos países nórdicos e na Irlanda atribuem esse mesmo grau de importância — um sinal das diferenças culturais e socioeconômicas que moldam a percepção de propósito.
- Entre os jovens com má saúde mental, três vezes mais relataram falta de sentido na vida.
- Indivíduos com baixa saúde espiritual têm até quatro vezes menos chances de relatar boa saúde mental — e duas vezes menos chances de ter boa saúde física ou social.
Esses dados não são apenas estatísticos: são um alerta estratégico. Se queremos construir organizações e sociedades verdadeiramente sustentáveis, precisamos reconhecer que pessoas desconectadas de seu propósito não sustentam mudanças sistêmicas duradouras.
A conexão com a sustentabilidade e a governança
O estudo revela algo surpreendente: dois terços dos jovens da Geração Z consideram fatores espirituais — como missão organizacional e oportunidades de trabalho pro bono — como “muito importantes” ou “importantes” na escolha de um empregador. Millennials e Gen X pensam de forma semelhante.
Isso significa que a governança corporativa precisa evoluir para incluir a dimensão espiritual da experiência humana no trabalho. Não se trata de impor crenças, mas de criar ambientes onde as pessoas possam:
- Encontrar significado no que fazem;
- Contribuir para causas maiores que o próprio cargo;
- Ter espaço para reflexão, silêncio e conexão com valores pessoais.
Organizações que ignoram essa demanda correm o risco de perder talentos, enfrentar altos índices de burnout e falhar em engajar equipes em agendas de sustentabilidade que exigem compromisso emocional e ético.
Sustentabilidade começa com o ser humano inteiro
A sustentabilidade não é apenas sobre reduzir emissões ou reciclar plástico — é sobre reconectar o ser humano com seu lugar no mundo. É sobre entender que não há transição ecológica sem transição interior.
Investir em saúde espiritual — individual e coletiva — é investir em:
- Resiliência emocional diante das crises climáticas e sociais;
- Empatia ampliada, essencial para justiça social e equidade (pilar “S” do ESG);
- Tomada de decisão com base em valores, não apenas em indicadores financeiros (pilar “G”).
Cultivando a saúde espiritual nas organizações: para além do mindfulness
Isso não significa criar espaços de meditação obrigatórios (embora a prática seja valiosa). Significa criar uma cultura organizacional que:
- Incentive a reflexão: promover momentos de pausa e reflexão, tanto individualmente quanto em equipe. Reuniões de check-in que vão além das metas de projeto.
- Conecte as pessoas com o propósito: comunicar constantemente como o trabalho de cada um impacta positivamente a vida dos clientes, a comunidade ou o planeta. Histórias e casos reais são poderosos.
- Valorize a autenticidade: criar um ambiente psicológicomente seguro onde as pessoas possam trazer seu “eu inteiro” para o trabalho, com seus valores e aspirações.
- Reconheça a integralidade do ser: Implementar políticas de bem-estar que considerem o indivíduo em suas dimensões física, mental, emocional *e* espiritual.
O equilíbrio interior como alicerce para o impacto exterior
A busca por uma sociedade mais sustentável e por organizações mais responsáveis começa com uma jornada interior. O relatório da McKinsey não é um tratado espiritual; é um sólido estudo de dados que aponta para uma conclusão estratégica: não há sustentabilidade externa sem equilíbrio interno.
Ao integrar a conversa sobre saúde espiritual na gestão, na estratégia e na cultura organizacional, não estamos abandonando o rigor do ESG. Pelo contrário, estamos aprofundando-o. Estamos plantando as sementes para uma governança mais sábia, um impacto social mais genuíno e uma relação mais harmoniosa e humana.
Como escreve a pesquisadora Lisa Miller, citada no estudo do MHI: “Alguns de nós são mais predispostos a sentir conexão espiritual… mas todos podemos cultivar essa capacidade e fortalecer nosso ‘músculo espiritual’.”
Para gestores, investidores e formuladores de políticas ESG, o desafio é claro: integrar a saúde espiritual nas estratégias de bem-estar organizacional, nos relatórios de impacto social e nas práticas de governança humana.
A sustentabilidade do planeta depende da sustentabilidade do ser humano. E um ser humano sustentável é aquele que sabe por que está aqui.
📄 Saiba mais — acesse — McKinsey Health Institute (MHI), “In Search of Self and Something Bigger: A Spiritual Health Exploration”.
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✍ Adriano Motta.
🖼 Imagem – McKinsey Health Institute (MHI), “In Search of Self and Something Bigger: A Spiritual Health Exploration”
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